terça-feira, 20 de julho de 2010

Super Mario Galaxy 2


A sua única tristeza será ver o fim desta aventura

Já em 2004, ainda antes do lançamento da sétima geração de consoles, Reginald Fils-Aime — o presidente da divisão americana da Nintendo — disse que eles “precisavam e criariam um jogo com Mario que impressionaria esta geração”. A verdade é que a esta altura a empresa já devia ter traçado os planos para o Wii (até então conhecido como Revolution) e para a nova aventura de seu mascote.
Mas pouco sabia “Reggie” que o jogo que realmente impressionaria viria somente em 2010. Super Mario Galaxy (o episódio anterior) foi bem recebido devido à manipulação dos saltos pelo espaço, mas também apresentava alguns contratempos. O jogo foi notável, mas todos esperavam por mais.
Um processo de evolução natural
Meses depois do lançamento, Shigeru Miyamoto sugeriu que a equipe principal da Nintendo começasse a trabalhar em uma espécie de expansão, apelidada de “Galaxy 1.5”. Em pouco tempo o time desenvolveu tantas novidades que o projeto foi aumentado e virou Super Mario Galaxy 2, ganhando mais dois anos de tempo para seu desenvolvimento.
Muitas melhorias foram realizadas em torno no núcleo principal e da mecânica de gravidade que atua nos pequenos planetas, abrindo espaço para cerca de 90% de conteúdo inédito e uma dose extrema de diversão. Sim, Super Mario Galaxy é o jogo que conseguiu nos impressionar e que certamente agradará a todos os jogadores que tiverem a oportunidade de testá-lo.
O que você verá a seguir é apenas um detalhamento de tudo o que encontramos ao longo de nossos testes. Confira!

Aprovado

Universo vivo
A primeira coisa que você notará ao começar a sua jornada é o quão “vivo” o jogo parece. Pequenas criaturas passeiam por todos os cantos, habitando não só as curvas da galáxia, mas também a sua própria espaçonave. Há possibilidade de interação com praticamente todos os personagens, cada qual com reações e diálogos únicos.
A linguagem é universal, não exigindo a compreensão do inglês já que a história (desta vez bem mais simplificada e charmosa que a anterior) se desenvolve rapidamente pelo uso das imagens e do próprio áudio, com pequenos barulhos que caracterizam cada personagem. O humor é leve, inocente e refinado, presente em cada açãoque o jogador realiza pela tela.
 
Uma aula de criação
Os artistas responsáveis pela elaboração dos estágios do jogo exibiram todo o talento que têm ao longo das fases. É absurda a maneira como o game consegue brincar com a mente do jogador misturando 2D com 3D, invertendo a gravidade de um lado para o outro, girando plataformas para cima e para baixo ou ainda transformando bolas de neve em caminhos sobre lava líquida.
O nível de complexidade aumentou consideravelmente em comparação ao primeiro Mario Galaxy. Não nos referimos diretamente à dificuldade, que permanece bem equilibrada, mas sim ao jogo furioso de câmera, à movimentação dos blocos e do próprio aproveitamento do espaço.
O curioso é que tudo isso é feito de forma extremamente planejada. Ao invés de causar uma tremenda confusão mental, Super Mario Galaxy 2 satisfaz com mudanças bruscas que são intuitivas para praticamente todos os jogadores, por mais absurdas que elas pareçam a princípio.
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Sobre tudo isso há ainda as batalhas contra os chefes, que testam tudo o que o jogo ensinou ao longo das estrelas anteriores e divertem pelo uso de diversas ferramentas, sendo a perspectiva uma delas. Todas são únicas e causam surpresa.
Nunca o mesmo
Mas o que mais surpreende é a quase completa ausência de repetição ao longo do jogo. Mesmo com centenas de coisas a serem feitas (incluindo a coleta das estrelas), a verdade é que você sempre estará “redescobrindo” os elementos de partida, de saltos — que exigirão cada vez mais habilidade — ao uso dos Power-Ups.
Tudo recebe alguma alteração ao longo do caminho, o que torna inédito até mesmo algumas das coisas que estavam presentes no primeiro jogo da série (um feito memorável). É o caso do rol de itens, expandido consideravelmente. Entre as novidades temos a flor de nuvens, o cogumelo de pedras e até mesmo uma broca que atravessa os cenários de ponta a ponta — garantindo quebra-cabeças interessantíssimos em conjunto com a ação da gravidade.
Desconsiderando os itens e partindo apenas para a jogabilidade ainda temos os estágios de patinação, natação e voo, que são como pausas na sequência tradicional, transformando Super Mario Galaxy 2 em algo completamente diferente do esperado.
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A volta dos companheiros
Sentiu saudades do Yoshi? Sem problemas, afinal de contas agora ele o acompanha por uma vastidão de cenários, como de costume engolindo tudo o que encontra pela frente. Ele pode não esmagar os oponentes com o mesmo salto pesado que Mario possui, mas compensa a limitação com pulos flutuantes.
De quebra ele ainda pode usar a língua para arrancar plantas carnívoras do solo, cuspir bolas espinhosas (que já foram tartarugas), grudar em apoios fixos e girar como um acrobata ou recorrer aos Power-Ups, seguindo o embalo do astro principal.
Exemplos incluem frutas apimentadas (que fazem com que Yoshi corra em disparada, sem nem notar a ação da gravidade enquanto atravessa pontes mortais), itens iluminados que afastam os perigos dos solos fantasmagóricos e até comidas que lhe enchem como um balão, fazendo Yoshi soprar, apitando como uma chaleira. Difícil vai ser você conter o riso na primeira vez em que ver isso acontecendo!
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Controles impecáveis
Mesmo com tanta coisa disponível e com uma variação tão drástica no estilo de jogabilidade visto de um planeta para o outro (ou ainda dentro de uma única seção, o que não é raro), o jogo consegue sustentar um patamar sólido para os controles, que respondem bem a qualquer comando do jogador.
Dessa forma, não há espaço para frustração quando o jogador morre, afinal de contas o fato estará quase sempre associado à falta de habilidade (ou erro na execução) e não a falhas na construção do jogo. De quebra, aqueles que arriscarem de verdade com os pulos e giros variados ainda podem se deparar com uma série de atalhos pelo caminho. Prova disso é o vídeo que colocamos abaixo.
Mas atenção: ele contém alguns spoilers, portanto só veja se não liga para o fato de perder um pouco da surpresa.
Luigi?
O querido irmão também dá seus pulos pelas galáxias, propondo desafios a você, marcando o tempo levado em cada planeta para auxiliá-lo como um fantasma em corridas por tempo ou até mesmo substituindo Mario como um personagem completamente controlável. Basta encontrá-lo na nave ou nos estágios para dar uma folga ao bigodudo mais baixinho.
Mario Ship!
Um dos principais problemas vistos no primeiro Mario Galaxy foi o sistema de navegação pelos estágios (o Hub), um tanto truncado e até mesmo confuso dependendo das pretensões do jogador. Felizmente este problema foi sanado e o segundo jogo traz um sistema linear e veloz de navegação, lembrando os antigos mapas de Mario Bros.
Para se deslocar de uma galáxia até a outra você utiliza uma espaçonave bem distinta, construída pelos Luma. Ela vem completa de fábrica, com aparência personalizada feita nos moldes da face do Mario (ainda que alguns Toads discutam a semelhança do projeto com Luigi — por causa das cores obviamente).
Os jogadores podem visitá-la livremente entre os planetas. Circulando pela “cara” é possível participar de mini games, coletar itens, descobrir alguns segredos, ler cartas mandadas pela princesa, sem contar as outras novidades que são adicionadas conforme há progresso pela história. No fim das contas esta base serve para tudo, contando com todo o carisma dos personagens que habitam o lugar ao seu lado.
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Uma viagem sensacional ao passado
Super Mario Galaxy 2 empresta praticamente tudo o que os seus predecessores tiveram de bom e melhora tais elementos, inserindo-os com perfeição ao modelo “Galaxy” de jogo. Em muitas situações esse regresso é realmente evidente, o que fará com que os jogadores fiquem com sorrisos que vão de uma orelha até a outra.
É o caso de estágios e músicas, que são na realidade releituras das versões originais. Além disso, muitas coisas são familiares, como os fantasmas em movimentos circulares sobre pontes, das fases em que é preciso deslizar e do próprio cenário das cachoeiras, em que toca uma canção bem famosa.
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Os veteranos que pularam muitas das versões tridimensionais de Mario podem até se sentir repelidos inicialmente pelo novo estilo e pelos comandos, mas a verdade é que o mascote carrega até hoje o mesmo carisma que possuía há duas décadas. Bastam alguns minutos para se adaptar. Resumindo: é bom você se preparar para uma overdose de nostalgia.
Conteúdo de sobra
Este é um subtítulo verdadeiramente enganoso. Dizemos isso porque em Super Mario Galaxy 2 você nunca achará que há conteúdo o bastante, simplesmente porque permanece o desejo de que a aventura nunca acabe, tamanha a diversão que ela proporciona aos jogadores.
Entretanto, em termos quantitativos, temos mais de 200 estrelas aguardando para serem coletadas (ainda que não de imediato), centenas de missões, extras e pequenos detalhes que podem ser descobertos. Aqueles que se dedicarem até o final, sem querermos estragar tanto as surpresas, ainda serão agraciados com mais alguns planetas para passearem. Não dá para reclamar, não é mesmo?
Diversão para quem lhe acompanha
O sistema de partidas cooperativas foi ligeiramente ajustado. O segundo jogador ainda permanece na tela apenas com o seu pequeno personagem e com a habilidade de apontar, mas agora a tarefa vai muito além da simples coleta de moedas. Agora ele conta com acesso direto aos inimigos e alguns elementos do cenário, podendo, por exemplo, aniquilar uma ameaça (chacoalhando os controles) para que o jogador principal atravesse uma região com Mario a salvo.
Como descoberto em nossos próprios testes, esta é uma situação extremamente perigosa já que o companheiro pode “sacanear” com você ao invés de ajudá-lo. Sem problemas, não é mesmo? O objetivo continua sendo a diversão, coisa que por aqui não falta em momento algum!
Música para os ouvidos
Sim, música, da melhor qualidade! A trilha sonora de Super Mario Galaxy 2 é mágica, pela falta de uma palavra mais adequada. Ela se encaixa em todos os momentos com o que o jogador está vendo na tela. As composições misturam elementos clássicos (que estão na série desde a década de 1980, como os sons de entrada nos canos e da montaria em Yoshi) com arranjos orquestrais de altíssima qualidade, criando o que é praticamente uma massagem para os ouvidos.
Além disso, temos ainda a ambientação espetacular. Como já mencionamos no início dos pontos positivos (na questão da energia transmitida pelo universo do jogo) os personagens e efeitos sonoros permanecem evidentes ao longo de todo o jogo, com muita força. Saltos e impactos carregam os “barulhinhos” clássicos, enquanto tudo o que você faz acarreta na reprodução de um som no mínimo familiar ou charmoso.
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O poder dos efeitos sonoros ainda é amplificado (uma vez mais, já que a técnica foi utilizada no primeiro jogo) pelo uso dos alto-falantes do Wii Remote. Realmente saímos dos testes nos perguntando por que mais jogos não apelam para o recurso. Tudo isso que citamos, em conjunto com os gráficos (descritos e elogiados logo abaixo) criam uma sensação de imersão praticamente insuperável. Você realmente não vai ter vontade de largar os controles.
O visual das galáxias
Super Mario Galaxy já vinha recebendo há muito tempo elogios pelos seus gráficos. Muitos trataram o jogo como o mais belo da plataforma. Mas e a continuação? Aí vai: Super Mario Galaxy 2 não é um salto exorbitante, mas certamente mostra muitas melhorias gráficas ao longo de seus estágios.
Sem dúvidas este é o jogo mais bonito lançado até hoje para o Wii, utilizando com muita inteligência os recursos de processamento do console, aliando às centenas de efeitos uma direção artística no mínimo invejável. O estilo é sólido, consistente ao longo de todas as galáxias. É como se a equipe da Nintendo soubesse exatamente o que e como criar.
Vilões possuem shaders específicos (rotinas de códigos que definem comportamentos visuais) de pele que reagem de acordo com a direção da iluminação; os fundos “vazios” destacam os planetas, a vegetação e as cores; A água tem comportamento dinâmico de superfície. O resultado final é magnífico.
Entretanto, isso não quer dizer que o jogo é isento de falhas em termos gráficos. Mas ficarmos listando os problemas mínimos — que mal reparamos ao longo de nossas partidas — seria no mínimo uma ofensa ao conjunto. Acredite: você só vai entender depois de jogar.

Reprovado

Uma viagem mais leve?
Ao contrário de jogos como Super Mario 64, Super Mario Galaxy não exige que o jogador se prenda por horas a algumas das fases, tendo que dominá-las de ponta a ponta para alcançar todos os objetivos (como a caça às moedas vermelhas e as passagens secretas escondidas). Tudo é apresentado de forma mais direta, sem a necessidade de um estudo profundo dos cenários.
Mas que uma coisa fique bem clara: o parágrafo acima serve como observação e não como reclamação, afinal de contas o novo esquema se adapta perfeitamente à proposta da série Galaxy. No fim das contas, o único problema realmente notável em Super Mario Galaxy 2 é o fato de ele ter um fim. Ponto final.
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Vale a pena?

A Nintendo conseguiu fazer algo que poucos acreditavam ser possível: surpreender tanto em termos de gráficos quanto de jogabilidade e áudio, em uma geração já dominada pela corrida técnica. Super Mario Galaxy 2 é uma aventura com tom leve, extremamente divertida e que resgata alguns valores fundamentais na história dos jogos, algo que nos lembra exatamente da razão pela qual a empresa é hoje uma das maiores do mercado.
O jogo é soberbo como um conjunto, contando com uma execução praticamente impecável de suas propostas, que abrangem dos mais variados estilos de jogabilidade aos gráficos, conforme mencionados anteriormente, que exibem detalhes vistos em pouquíssimos outros games lançados para a plataforma.
Há também um resgate da inocência com esta nova aventura. A narrativa é minimalista, apostando em uma linguagem puramente sonora e visual (através de pequenos gestos e efeitos) que consegue derrubar qualquer barreira comunicativa e capturar a atenção do jogador, com muito bom humor, é claro.
A continuação definitivamente não causa tanto impacto, já que a fórmula já foi “arranhada” antes, mas em contrapartida apresenta centenas de inovações, transpirando qualidade por todos os cantos e melhorando tudo o que já havíamos visto antes. Super Mario Galaxy 2 é sem sombra de dúvidas um dos melhores jogos já feitos e será lembrado por muitos como um clássico.


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